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RELATO DE EXPERIÊNCIA

O projeto de extensão Pólo Spark de Artes: percurso e perspectivas

BEZERRA, Layrton Borges.
Graduando do curso de Licenciatura Plena em História – CSHNB – UFPI e monitor do Projeto de extensão Pólo Spark de Artes (layrton_3@hotmail.com)
BATISTA, Gustavo Silvano.
Mestre em Filosofia e Professor Assistente – CSHNB - UFPI

INTRODUÇÃO
O Pólo Spark de Artes surgiu como forma de incentivo à cultura, através da exposição de filmes, possibilitando além da ampliação do conhecimento sobre a produção cinematográfica, o seu reconhecimento pela academia e comunidade.
Seu papel social é integrar a comunidade acadêmica e sociedade, com o objetivo de formar uma consciência crítica de tal maneira que esses espectadores possam olhar as produções cinematográficas, podendo perceber o contexto de criação das mesmas e as mais variadas formas de abordagens que podem ser exploradas.
 Deste modo, este projeto, realizado em parceria com o SENAC, acontece mensalmente, sempre exibindo um filme significativo da historia do cinema. Após a apresentação de cada filme são realizados debates sobre temas relevantes para a formação do olhar da comunidade, levando os participantes a desenvolver a prática do debate, da reflexão crítica e do respeito à diversidade, entendendo tais habilidades como fundamentais à convivência e participação cidadã. 
    
OBJETIVOS
Este trabalho tem o objetivo de contribuir com a formação humanística dos estudantes e comunidade em geral, propiciando um espaço de apreciação e reflexão crítica sobre filmes e diversos temas de interesse humano e social por ela vinculados.
Através dos debates os participantes têm a oportunidade de expressarem seus diversos pontos de vista, sobre os itens que foram considerados mais relevantes pelos mesmos, criando um ambiente de integração e socialização de idéias, gerando vínculos de empatia e discussões que fomentam o conhecimento de todos que se engajam neste projeto.

METODOLOGIA
            As exibições dos filmes são realizadas uma vez por mês aos sábados; para que as mesmas possam ocorrer, é necessário um processo preliminar no qual inicialmente será escolhido o filme e a data ideal, depois será realizada a divulgação, para que os discentes, os docentes e a comunidade possam se familiarizar com a proposta do filme.
            O espaço utilizado para a apresentação dos filmes é o Cine/Senac, ambiente que foi cedido como parceria entre a UFPI e o Senac que detêm uma ótima estrutura física e uma excelente sonorização, proporcionando conforto e comodidade para quem assiste aos filmes, além de fazer com que estes sintam-se realmente dentro de uma sala de cinema.  
          Foi criado um blog com o endereço www.polosparkdeartes.blogspot.com, que é usado como facilitador dessa divulgação, onde são postados comentários sobre os filmes que já foram exibidos e que serão exibidos, ainda havendo um espaço para todos aqueles que desejem postar algum comentário ou proposta de melhoramento.
            Após a exibição do filme os orientadores do projeto encaminham um direcionamento aos vários vieses explanados no filme, dando liberdade para que os participantes possam colocar suas idéias em discussão, contribuindo para uma postura crítica e ética.
O recolhimento ao final de cada apresentação dos e-mails faz-se necessária como forma de manter estabelecida conexão entre a coordenação do projeto e os participantes que podem dar sugestões de filmes e fazer comentários que sejam relevantes a construção do grupo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
           Após algumas exibições, discentes, docentes e comunidade começaram a freqüentar mais ativamente, a perguntar, a comentar, a participar dentro de cada debate, mostrando como esse momento de reflexão pós-filme tem tido resultados positivos, pois o engajamento e a desenvoltura de todos que integram o grupo é vista nas suas falas.  
          A discussão aprofundada, tanto das temáticas veiculadas quanto dos recursos mediáticos empregados, permite aos participantes deste projeto, reconhecer que a sétima arte é, por excelência, o cinema dos enunciados morais, das mensagens dirigidas ao espectador, da exposição da vida cotidiana, dos seus dilemas e das suas vicissitudes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CABRERA, Julio. O cinema pensa. Rio de Janeiro: Rocco, 2006.

DA-RIN, Silvio. Auto-reflexividade no documentário. Cinemais, 8, Nov/dez de 1997, p.71-91.

GUTIERREZ ALEA, Tomas. Dialética do Espectador: seis ensaios do mais laureado cineasta cubano. São Paulo: Sumus, 1984.

NICHOLS, Bill. Introduction to Documentary. Indianápolis: Indiana University Press, 2001.

AS INFLUÊNCIAS QUE ANTECEDERAM A CRIAÇÃO DA LEI EUSÉBIO DE QUEIROZ (1850) NO BRASIL IMPÉRIO
 
Por.: Antonio Marcos de Almeida Ribeiro
História/UNEB Campus XIII

Introdução
O presente trabalho pretende fazer uma análise dos acontecimentos que envolveram o Brasil na criação da lei Eusébio de Queiroz em 1850. Abordagens que se inseriram nesse contexto. Não é de se negar que a temática é um assunto amplo e com certa complexidade, onde um ensaio não esgota todos os seus aspectos, a começar pelo tema estar ligado á escravidão. Minha pretensão é dá uma visão panorâmica a partir desse recorte histórico e sua abrangência na conjuntura socioeconômica.
A pressão inglesa antes da criação da lei
As pressões do lado da Inglaterra sobre o Brasil na primeira metade do século XIX em relação ao tráfico negreiro, vão ser cruciais no desencadeamento de ações e reações na culminância na Lei Eusébio de Queiroz em 1850. A Inglaterra maior traficante de escravos até o século XVIII havia abolido a escravatura em todas as suas colônias em 1833. Passando dessa posição a defensora do fim do comércio escravo. Entre as razões para tal posição Alencar, Carpi e Ribeiro (1994), afirmam que desde 1807 o reino Britânico já havia extinguido o tráfico em suas colônias nas Antilhas. Os proprietários antilhanos – latifundiários reagiram iniciando uma campanha antiescravista a nível mundial argumentando que os seus produtos tinham um custo alto que em áreas escravistas influenciando assim os preços no mercado internacional.
Havia uma razão ainda maior para essa atitude por parte dos ingleses. A Grã-Bretanha havia consolidado a sua Revolução Industrial e por interesses capitalistas precisavam ampliar os mercados consumidores e isso só se efetuaria onde houvesse trabalhadores assalariados. Por uma razão ou outra a essa pressão era sentida no Brasil desde antes da formação do Império. Em 1810 a Inglaterra exigiu o fim do tráfico de forma gradual. E em 1826 foi enfática e estabelecer uma data limite para o fim do comércio escravo. Na Convenção de Reconhecimento da Independência do Brasil em 1827, D. Pedro I comprometeu-se a extingui o tráfico dentro de três anos. Mas importantes setores da classe dominante no Brasil iam resistindo a essas decisões.
O elemento servil como ressalta Sodré (1998) em seus estudos, marca a formação da sociedade brasileira desde o pau-brasil. Nossa história inicia-se com a utilização de mão de obra primeiramente vermelha em seguida a negra. Como disse Antonil (1976) em sua declaração clássica “o negro era braços e mãos do senhor de engenho”. O canavial mesclava-se com o negro. A mineração era negra. O café vai se tornar o ouro verde cultivado por mãos negras nos seus primórdios. Em suma, os latifundiários tinham adotado a mao de obra escrava como suporte de sua economia. Com justificativas preservando e defendendo o regime escravista. O compromisso de D. Pedro I acabou sendo uma fachada, o governo cedeu á elite brasileira.
Sobre elite brasileira, Carvalho (1986) fala que o perfil das forças sociais se reproduz automaticamente na política. Quer dizer que, os grupos sociais dominantes representavam exatamente os grupos políticos. A influência no Estado tenderia a uma formação e manutenção nos moldes dessa classe. A tradição do trabalho servil era forte e conservadora indispensável para prosperidade do país, assim raciocinava essa elite. Mas a nova ordem industrial afetaria decisivamente as suas relações a partir dessas pressões externas.
A Assembleia Geral em 1831 aprovou uma lei pela qual estabelecia que os africanos que entrasse no Brasil a partir daquele ano seriam considerados livres. Os proprietários rurais fingiram não ter conhecimento dela e o tráfico persistiu. Segundo os estudos de Roberto Conrad (1985) sobre tráfico ilegal de 1831-1838, no primeiro momento com um olhar superficial sobre a situação do tráfico, nota-se que até 1850 importava em média 50 mil escravos por ano, representando metade de todas as importações. Um negócio em tanto para os traficantes. Era forte a resistência dos proprietários rurais, pois tinha na escravidão a dependência de suas lavouras. Com a lei de 1831 o tráfico foi renovado em função dos preços que despencavam na África e crescia no Brasil. Conrad (1985:99) nos diz que:
Na costa africana por 8 até 18 dólares americanos poderia ser vendido por 300 dólares americanos em qualquer parte do Brasil.
O comércio era bilateral favorecendo a lei da oferta e procura. O preço subia ainda mais com as suspeitas de uma suposta abolição num futuro próximo. Desse ponto de vista um comércio lucrativo que vai se intensificar cada vez mais por maiores que fossem os riscos. As condições de transporte já eram precárias antes da lei onde negros acorrentados, ficavam amontoados em fileiras no porão, pois os traficantes temiam algum tipo de motim. E a alimentação era apenas bananas e água podre onde 40% da “carga” perecia na travessia marítima. As condições de viagem pioravam ainda mais resultado de um maior rigor na fiscalização. Na Bahia, por exemplo, encontraram um navio com cinquenta escravos homens, dos quais cinco deles foram retirados de uma pipa d’água e outros colocados amontoados a força num falso convés. Conrad (1895:100) salienta que:
Em 1832 as principais diferenças entre o velho e o novo tráfico talvez fossem a maior lucratividade deste último e os métodos mais sinuosos que os nossos importadores eram obrigados a utilizar pesar, da assistência de mais de uma vez estavam recebendo das autoridades públicas.
Além de esconderem escravos outros métodos ‘sinuosos’ eram empregados, por exemplo, navios zarpavam dos portos brasileiros e retornavam ostentando a bandeira de Portugal no pretexto de estarem carregando outras cargas, mas a bordo algo mais lucrativo no momento. As autoridades brasileiras e Inglesas fracassaram por essas e outras razões expostas a seguir.
As pessoas comissionadas para fiscalizar e cumprir a lei fazia ‘vistas grossas’ e compactuavam com a opinião dos latifundiários. Até mesmo navios apreendidos passavam por uma morosidade e indiferença na aplicação da lei, no que diz respeito ás punições. A própria sociedade favorecia o tráfico e autoridades estavam criminalmente envolvidos impedidos de fazer cumprir seu dever por cumplicidade, temor, ou pela vergonha da opinião pública (Conrad, 1985).
No senado as discussões dos apologistas do tráfico eram que a lei havia se transformado em estímulo aos importadores e por isso o tráfico havia crescido assombrosamente. Outros defendiam que a produção nas fazendas estava caindo afetando a economia regional e consequentemente a nacional. Essas eram vozes da classe dos plantadores e dos políticos conservadores. Os Ingleses estavam a par de todas essas informações denunciando as irregularidades aos seus subordinados de além mar. Certo seria que as coisas não ficariam assim por muito tempo.

A Lei Bill Aberdeen
Em 1845 as relações Brasil e Inglaterra chegaram a um ponto crítico. O prazo de quinze anos estabelecidos pela lei de 1831 para o direito de visita e busca não havia sido renovada e com a Tarifa Alves Branco (1844), medida protecionista que encareceu os produtos importados, fez o governo britânico agir energeticamente.
A Inglaterra percebendo a resistência latifundiária começou a agir por conta própria adotando a Lei Bill Aberdeen que autorizava a esquadra britânica a prender navios negreiros e julgar tripulantes como piratas. Tumbeiros foram aprisionados em nosso mar territorial de três milhas, havendo casos de fogo sobre a costa e desembarque de forças sobre terras brasileiras para perseguir traficantes. Com essas ações até o comércio de mercadoria não-humana estava sendo prejudicado. O Brasil vai protestar veementemente como sendo um ato unilateral arbitrário. Mesmo sobre fortes protestos a lei vigorou, mas ainda com problemas:
A repressão, apesar do direito de visita em alto mar, lutava com uma grande dificuldade: é que os navios negreiros, quando se viam acossados pelo inimigo e não lhe podiam escapar, lançavam ao mar sua carga humana, destruindo assim o corpo de delito comprometedor e inocentando-se com isso perante os tribunais internacionais que os deviam julgar. (Prado Jr., 1970 p. 149).
Outras cláusulas foram incorporadas para aumentar a fiscalização, no qual, além da presença de escravos também indícios da utilização do navio como tumbeiro. Começou haver uma desavença tamanha levando as duas nações a um ‘estado de guerra’. Essa situação não poderia persistir e o Brasil teria de ceder a maior potência mundial na época. Além disso, dois fatores internos iriam favorecer a mudança de atitude por parte dos brasileiros. A pressão inglesa passou a surtir efeito.
Sobre os fatores internos que favoreceram a mudança de atitude estava o café que se configurava nessa ocasião como uma nova riqueza no âmbito das atividades produtivas. Introduzido no Brasil em 1727 começou a ganhar importância, à medida que se tornava bebida de luxo na Europa e Estados Unidos conquistando um amplo mercado a partir do século XIX. Começou haver um deslocamento da primazia econômica das velhas regiões do nordeste para o sudeste. As lavouras canavieiras, de algodão e fumo enfrentavam condições desfavoráveis no mercado internacional. Mesmo com a introdução do vapor nos engenhos não superariam a crise. Os senhores estavam com propriedades hipotecadas nas mãos dos traficantes e dos bancos. O comércio estabelecido com traficantes era o mesmo que endividava os latifundiários por causa da alta do preço dos escravos. O valor aumentou vertiginosamente.
Diante dessa conjuntura esses fatos causaram um forte impacto sobre a economia tradicional nordestina e o sudeste cafeeiro emergente contou com o tráfico interprovincinal e mesmo para o produtor de café o preço do escravo eram exorbitantes, aumentando em mais de 100% superfaturado com a intensificação do controle que faria o custo dessa mão de obra atingir ápices galopantes. Celso furtado (1977:136) vai observar que o problema vai aumentar durante a primeira metade do século XIX porque “a inadequada oferta de mão de obra constitui o problema central da economia brasileira”.
O problema estava se agravando. E a solução encontrada pelos cafeicultores seria a introdução de mão de obra assalariada imigrante - Não trataremos aqui das implicações da pseudociência que reforçava a eugenia e as condutas da política de branqueamento.  Embora a transição do trabalho servil para o assalariado com aproveitamento da mão de obra importada embora incipiente. Essas forças se processavam como uma solução efervescente para reformas no processo de abolição da escravatura, sendo que o projeto de abolição estava no bojo dos reformadores da ordem política para a mudança de monarquia para república. Mesmo com a eloquência abolicionista e assinatura da Lei Áurea (1888), as manchas da escravidão não se apagariam com facilidade. Como Furtado diz (1977:140):
O reduzido retardamento mental da população submetida a escravidão provocará a segregação parcial desta após a abolição, retardando sua assimilação e entorpecendo o desenvolvimento econômico do país. Por toda a primeira metade do século XIX, a grande massa de descendentes da antiga população escrava continuará vivendo dentro de seu limitado sistema de “necessidades”, cabendo-lhe um papel puramente passivo nas transformações econômicas do país.
O outro fator foi a divergência da classe dominante, quanto à possibilidade para a proibição do tráfico no Brasil. Alguns dos políticos liberais começaram a ‘simpatizar’ com a causa abolicionista num processo de plena elaboração que vai se constituir no fim da escravidão como ressalta Sodré (1978) que leis preparatórias ia alertando para a possibilidade de um golpe definitivo.
Apesar de posteriormente serem criadas leis absurdas do ponto de vista jurídico como Ventre Livre (1872) e Sexagenário (1885) as disparidades entre as condições em que eram submetidos os ex-escravos não resultavam absolutamente em nada, apesar disso serviam de alertas. Além disso, a emancipação por alforria ia crescendo gradualmente. Fugas tornavam-se frequentes sob proteção dos caifazes, responsável pelo acobertamento de escravos e compra de alforrias. O Exército se recusava a perseguir os negros foragidos e a Igreja não se pronunciava oficialmente quanto aos abolicionistas, não impedindo a participação de padres no movimento.
Por fatores citados anteriormente acrescidos pelas pressões inglesas, em quatro de setembro de 1850, Eusébio de Queiroz, então ministro da justiça teve seu projeto de lei aprovado na Assembleia Geral. A lei tinha como propósito que a partir daquele ano, os traficantes seriam punidos pelas auditorias da marinha e os fazendeiros pela justiça local. Além de autorizar a expulsão dos traficantes do país. E em 1854 através da Lei Nabuco de Araújo, estabelecia maior rigor na fiscalização. A extinção do tráfico numa sociedade ainda alicerçada na exploração servil trouxe várias consequências. A estrutura escravista sofria o seu primeiro abalo. Furtado (1977:95) resume toda essa conjuntura da seguinte forma:
Os conflitos da primeira metade do século XIX entre os dirigentes da grande agricultura brasileira e a Inglaterra – os quais contribuíram indiretamente para que se formasse uma clara consciência da necessidade de lograr a plena independência política – não tiveram sua origem em discrepâncias de ideologia econômica. Resultaram principalmente da falta de coerência com que os ingleses seguiam a ideologia liberal. O tratado do comércio de 1810, referindo-se embora com bonitas palavras ao novo “systema liberal”, constitui, na verdade, um instrumento criador de privilégios. Por outro lado, os ingleses não se preocuparam em abrir mercados aos produtos brasileiros, os quais competiam com os de suas dependências antilhanas. Aplicada unilateralmente, a ideologia liberal passou a criar sérias dificuldades à economia brasileira, exatamente na etapa em que a classe de grandes agricultores começava a governar o país. É nesse ambiente de dificuldades que a Inglaterra pretende impor a eliminação da importação de escravos africanos. Assim entre as dificuldades que encontravam para vender seus produtos e o temor de uma forte elevação dos custos provocada pela suspensão da importação de escravos, a classe de grandes agricultores se defendeu tenazmente, provocando a ira dos ingleses.
Conclusão
Sob a ira dos ingleses é que a Lei Eusébio de Queiroz (1850) é sancionada. É notório que todo envolvimento teve como pano de fundo uma estrutura macroeconômica ascendente influenciando decisivamente no microcosmo da realidade brasileira. Uma força maior impôs uma situação que acabou atingindo todos os pormenores da sociedade influenciando economia e política. Em linhas gerais, uma ordem mundial de cunho econômico, faz gerar uma realidade a partir de transformações, ditando no cenário socioeconômico suas reivindicações, quer seja por questões internas ou externas. Toda essa complexidade é que estava no entorno da criação da Lei Eusébio de Queiroz (1850).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALENCAR, Francisco. CARPI, Lúcia; e RIBEIRO, Marcus. História da sociedade Brasileira. Rio de Janeiro, Ed. Ao Livro Técnico, 1994.
ANTONIL, André João. Cultura e opulência no Brasil. São Paulo, Edições Melhoramentos, 1976.
CARVALHO, José Murilo de. A Construção da Ordem: A elite imperial. Rio de Janeiro. Editora Campus, 1986.
CONRAD, Roberto Edgar. Tumbeiros: o tráfico escravista para o Brasil. Rio de Janeiro, Brasiliense, 1985.
FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. São Paulo, Editora Nacional, 1977.
PRADO JR, Caio. História econômica do Brasil. São Paulo, Brasiliense, 1970.
SODRÉ, Nelson Werneck. Panorama do Segundo Império. Rio de Janeiro. Editora Graphia, 1998.


 
SR. MONK E O PARADIGMA INDICIÁRIO


  Escrito por Edielson B. do Carmo 
(Graduando em História pela UNEB-Campus XIII) 


  
Na contramão do que pensam a maioria dos intelectuais e acadêmicos, guardo o hábito de assistir alguns programas televisivos. Sempre que posso assisto desde filmes na sessão da tarde até programas que passam tarde da noite quando muitos já estão no terceiro sono. 

Pode parecer piada, mas dá para se aprender muito com determinados programas, seriados e filmes. Semana passada, como de costume, estava em casa aguardando o horário para assistir o seriado Monk: um detetive diferente. Um pouco recostado no sofá, com um livro na mão: Literatura como missão de Nicolau Sevcenko; lia enquanto o seriado não começava. Muitos gostam de ler no quarto longe de qualquer barulho ou interferência, outros ao som de boa música, eu, gosto de ler tendo como pano de fundo o som da televisão.

Quando começou o seriado eu já estava bastante adiantado na leitura. Sevcenko transcorria detalhando a situação em que se encontrava a cidade do Rio de Janeiro na Belle Époque, o contraste social, as grandes massas desocupadas, políticas públicas de higienização das ruas, enfim... Começava a vinheta do seriado, a esta hora colocava o marcador na página e me concentrava no inicio. 

Sr. Monk faz o papel do detetive no espírito sherlockiano de investigar, com análises precisas e deduções intuitivas, mas com a atenção nos detalhes oriundos da cena do crime. 

Neste episódio em especial Sr. Monk se vê diante de um crime complexo de se resolver. Assim também pensa o chefe de polícia que manda contatar uma equipe de investigadores equipados com o que há de mais evoluído em tecnologia criminalista: aparelhos computadorizados que examinam digitais, que analisam DNA,que fazem a diversão de qualquer nerd. Uma equipe com estilo moderno de investigação, totalmente contrario ao método utilizado por Monk.

Em determinada cena o principal detetive moderno discorda de Monk numa importante decisão a tomar nas investigações do crime. Indiferente as preposições levantadas por Monk o detetive moderno fala: “Deus está nos detalhes”. Levando Monk a desistir nas suas teorias e se aprofundar naqueles detalhes até então encontrados na cena do crime. 

Esta frase “Deus está nos detalhes” também conhecida como “Deus está no particular” foi utilizada como epigrafe para um ensaio publicado pelo historiador italiano Carlo Ginzburg. Neste ensaio intitulado “Sinais: raízes de um paradigma indiciário” Ginzburg explica como é possível analisar determinadas fontes históricas a partir dos detalhes, dos rastros e pistas. 

Esse ensaio ficou muito conhecido porque divisou na historiografia como um novo meio de se interrogar as fontes. Nascia ali o Paradigma Indiciário, método que viria ser utilizado por diversos pesquisadores e historiadores mundiais.

A frase "Deus está nos detalhes" é de autoria do historiador Aby Warburg que ficou muito conhecido no meio acadêmico pelas suas análises e contribuições para o estudo da iconografia. Também é conhecido pelo instituto que leva seu nome Instituto Warbrg.

Carlo Ginzburg iniciou seus estudos inspirando-se nas pesquisas desenvolvidas por Warburg, avançando ainda mais em suas pesquisas históricas. Seu contato com o Instituto Warburg possibilitou diversas contribuições também para a história da arte. 

O detetive Sr. Monk em seu universo ficcional é a representação fiel do pesquisador que a partir dos detalhes consegue reunir o maior número de informações para se descrever uma cena de crime, ou, como nos convém, uma cena do passado.
                                                                                  
            P.S. No final Sr. Monk consegue resolver o caso colocando toda a equipe de investigadores no chinelo.                                               

                                                                                

 

HISTÓRIA ORAL: SEU ESPAÇO NAS PESQUISAS EM CIÊNCIAS HUMANAS

 

Por.: Antonio Marcos de Almeida Ribeiro
Graduando em História pela UNEB- Campus XIII

As mudanças que se fazem presente nas formas de ver, sentir e refletir sobre a vida repercute em nossa época que podem ser observadas nas pesquisas, possibilitando uma variedade de problemáticas de como influir no comportamento da cultura e na compreensão no processo de ser humano. Uma dessas formas se configura a história oral, como forma de pensar a sociedade.

Em termos de pesquisa progredimos na compreensão da complexidade do processo de memória e da interpretação das fontes orais. Houve uma vigorosa difusão de projetos e o surgimento de questões a respeito do passado a partir da história oral. Hoje existe uma comunidade internacional de pesquisadores de diversas áreas que trabalham refletindo sobre a contribuição da história oral em suas pesquisas. Está consolidada, sendo discutida em todo mundo nos cursos e disciplinas sobre método e teoria.

A história oral reelabora o conceito de documento que alia avanços da eletrônica sobre ponderações no tempo presente. Na conjuntura acadêmica atual, houve um enorme interesse sobre história oral nas questões emergentes no campo das pesquisas, especificamente entre profissionais das ciências humanas. O debate ultrapassa áreas do conhecimento e abrange um número cada vez maior de profissionais interessados pela temática. Esse crescimento da história oral carece de uma reflexão teórica e metodológica direcionado aqueles que estão engajados no processo de produzir conhecimento através das pesquisas. Além da divulgação para aqueles que nunca tiveram contato, mas de qualquer forma estão engajados em algum tipo de trabalho científico.

Ao estudarmos um período recente da história, sem documentação e com literatura insuficiente, as pessoas têm grande importância como testemunhas e ao ouvi-las, podemos perceber a riqueza e importância da memória de sujeitos anônimos. O seu caráter interdisciplinar resulta num avanço qualitativo nas pesquisas de diversas áreas: história, educação, sociologia, antropologia, etc. Abrir um debate sobre história oral enquanto método e teoria ampliam os conhecimentos daqueles que estão engajados em pesquisas ou estão amadurecendo idéias de produção científica. Possibilita o acesso ao conhecimento quanto a esse método e incentiva pesquisas desse cunho, no sentido de valorizar a memória enquanto patrimônio nacional. Como ressalta Sônia Maria Freitas (In: THOMPSON, 2000, p.17):

É preciso preservar a memória física e espacial, como também descobrir e valorizar a memória do homem. A memória de um pode ser a memória de muitos, possibilitando a evidência dos fatos coletivos. 

A história oficial está nos livros, nos documentos e nos discursos dos dirigentes. Mas ao lado dos dados oficiais existe uma outra visão dos fatos que podem ser recuperados através da memória, numa outra maneira de “construir” a história. O plano intricado da sociedade nos aponta para outros aspectos de entendimento sobre ela. Os esforços partem do debruçamento do específico, do particular nos colocando em representações de caráter universal se justapondo em contrapontos na forma de compreensão do real pensado desvendando ao real concreto. No método investigativo, os próprios princípios implícitos nos dirigem a novos elementos ampliados do processo de conhecimento. Antônio Torres Montenegro ressalta que (MONTENEGRO, 2000, p. 10):
O tempo histórico não é o tempo vivido. A história escrita, documentada distingue-se do acontecido; é uma representação. E nesse hiato entre o vivido e o narrado localiza-se o fazer do próprio historiador.

A história como toda atividade de pensamento opera por descontinuidades, quer dizer, seleciona-se acontecimentos, fatos, conjunturas e modos de viver, para conhecer e explicar o que se passou. A história oral não é exceção. Ela nos ajuda a explicar alguns paradigmas que podem estabelecer uma visão crítica do método e a identificar suas potencialidades na atualidade. Permitindo que os fenômenos subjetivos se tornem inteligíveis dando diferentes versões da “construção” do passado e da subjetividade. Além de está atrelado em grande parte a dois paradigmas da modernidade: o modo de pensar hermenêutico e a idéia do individuo como valor.

Esse quadro nos recoloca em novos desafios, nesse sentido um referencial teórico de análise que aponta a opções históricas, nos dando “outras visões” longe das representações da sociedade tida comumente como oficiais, trazendo em seu bojo o discurso daqueles que se consideram os “construtores da história”, os guardiões do relato tido como oficial. A história oral emerge como um meio de transformar tanto o conteúdo, quanto à finalidade da história, revelando novos enfoques e campos de investigação, dando voz ao passado, nas palavras de Sônia Maria de Freitas (In: THOMPSON, 2000, p. 18,19):

A história oral possibilita novas versões da história ao dar voz a múltiplos e diferentes narradores. Esse tipo de projeto propicia sobretudo fazer da história uma atividade mais democrática, a cargo das próprias comunidades, já que permite construir a história a partir das próprias palavras daqueles que vivenciaram e participaram de um determinado período, mediante suas referências e também seu imaginário.

Reconhecer paradigmas que estão na base sobre os debates em história oral implica trabalhar a partir dela ampliando o conhecimento sobre o passado. Convém dizer que a história oral não é a solução em termos de pesquisa, mas possui a utilidade de delimitar sobre o que se vale problematizar. A experiência a partir da história oral torna o passado mais concreto, sendo atraente na divulgação do conhecimento.

Os campos abertos para pesquisa, longe de se esgotar, podem ser ampliados dentro dos temas como: história do cotidiano, padrões de sociabilização e de trajetórias, história de comunidades, história de instituições, biografias, história de vida, registro de tradições e cultura são algumas das possibilidades da história oral em atividades de pesquisa e documentação no âmbito das ciências humanas. Dando amplitude a partir das vozes das classes subalternas, desprivilegiados e os excluídos socialmente permitindo abertura para novas áreas de problematização ampliando e enriquecendo o próprio campo das pesquisas em ciências humanas.

Essa perspectiva é possibilitada pela história oral, por ser essencialmente criativa, flexiva e cooperativa. Levando o pesquisador a uma aproximação mais original da pesquisa. Oferecendo uma alternativa documental diversa da tradição rígida, como forma da captação de experiências de pessoas dispostas a falar sobre aspectos de sua existência. A forma de preservar a memória e o estudo dos fatos se passa pela pesquisa que valorize a oralidade. Por tanto problematizar questões teóricas, metodológicas e práticas preenche uma lacuna nos debates sobre pesquisa nas ciências humanas. Ainda mais num momento marcado pelo avanço das tecnologias da informação.

A reflexão sobre a história oral, seu espaço e reputação afunila questões teóricas, metodológicas, além da troca de experiências contribuindo para a fomentação da pesquisa em ciências humanas. As produções recentes dentro da história oral, oferecem novas perspectivas e novos campos de pesquisa, nascendo para dar voz aos excluídos que de outra forma não poderiam ser ouvidos, sendo assim mais socialmente consciente e democrático, preservando a riqueza e o valor das vozes individuais, da tradição e cultura.

O desafio da história oral encontra-se com uma finalidade essencialmente social, surge como um divisor de águas que abre novos campos de investigação derrubando barreiras na produção e divulgação de pesquisas. Aponta para abordagens diferenciadas com as fontes de que se dispõe. A experiência de vida das pessoas pode ser utilizada como matéria-prima ganhando dimensão através da ótica da história oral. Alcançando por esse meio resultados que por outros seriam impossíveis.  Oferece ainda, a possibilidade de ser uma fonte bastante promissora e de alcance mais abrangente contribuindo para uma reconstrução mais democrática do passado.

Em linhas gerais, o que pretendemos é dá uma visão panorâmica do que a história oral abrange, indicando as proximidades entre história, memória, tradição oral versus tradição escrita e método de pesquisa, além de outros aspectos que indicam a riqueza e potencial inovador da história oral.

A pretensão é dinamizar uma reflexão teórica do como pensar e do como fazer história oral, dando significação ao ato de produzir conhecimento de cunho histórico-científico. Ademais a história oral é um lugar de interdisciplinaridade onde outras áreas também podem beber de sua fonte. Além de indicamos os debates e desafios que os pesquisadores devem enfrentar na produção cientifica. Esse é um momento oportuno termos em perspectiva um espaço para reflexão onde congregasse uma discussão sobre história oral afunilando questões teóricas, metodológicas, além da troca de experiências contribuindo para a fomentação da pesquisa acadêmica.

BIBLIOGRAFIA:


ALBERTI, Verena. Manual de história oral. Rio de Janeiro, FGV, 2004.

____________. Ouvir contar: textos em história oral. Rio de Janeiro, FGV, 2004.

AMADO, Janaína; FERREIRA, Marieta de Moraes (orgs). Usos e abusos da história oral. Rio de Janeiro, FGV, 2006.

BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças de velhos. São Paulo, Companhia das Letras, 2007.

CATROGA, Fernando. Memória, história e historiografia. Portugal, Coimbra, Quarteto, 2001.

MEIHY, José Carlos Sebe Bom. Manual de história oral. São Paulo, Loyola, 2005.

____________. HOLANDA, Fabíola. História oral: como fazer, como pensar. São Paulo, Contexto, 2007.

MONTENEGRO, Antônio Torres. História oral e memória: a cultura popular revisitada. São Paulo, Contexto, 2007.

THOMPSON, Paul. A voz do passado: história oral. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2002.
DESCRIÇÃO-AQUI.