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O imperialismo do século XIX estava alicerçado na expansão industrial que procurava investir seus excedentes fora da Europa, criando as zonas de influência. Motivações de várias ordens incentivavam a tendência colonizadora na África e Ásia sob a bandeira de se estar levando o progresso e a civilidade. É nesse contexto que a Inglaterra com o objetivo de aumentarem seus lucros com custo considerável e em adquirir matéria-prima estabeleceu sua soberania sobre aquele território. Nesse momento os direitos da Companhia Britânica das Índias Orientais são transferidos para a coroa Britânica, começa o neo-colonialismo e é nesse contexto que se insere a película.

O filme começa com o assassinato de Gandhi e termina com seu sepultamento um recurso que recria na mente do espectador, um breve momento de reflexão, demonstrando que a perda da vida foi fruto de uma causa interrupta que o restante do filme tratará de explicar. Uma biografia reveladora das várias facetas da natureza humana em seus extremos. Se por um lado existe a injustiça, a discriminação, a desigualdade por outro a tolerância, o diálogo, da compreensão, o caminho espinhoso da não-violência.

Após estudar Direito na capital do Império Britânico e vive uma vida devota as suas convicções, (Gandhi era vegetariano e recitava o Guita e o Sermão da Montanha diariamente). A ida a África do Sul para representar uma firma Indiana, seria uma etapa decisiva. Lugar marcado pelas hostilidades a estrangeiros, preconceito racial e abuso de direitos vai ser palco para profundas reflexões e tomada de ação que marcaria toda sua vida. Ao ver essa parte do filme nos parece que sua estada na África foi breve, mas ele permaneceu vinte anos lutando pelos direitos da minoria hindu. Movendo a opinião pública, organizando protestos e passeatas.


Implementou, o que ele chamou de Satyagraha, o que significava fazer vir a tona a verdade revelando o melhor da natureza humana. Isso marcaria sua estratégia de luta. E o ahimsa, que em outras palavras quer dizer o caminho da não violência. Com esses elementos entrou em contato com a literatura marxista descobrindo a “desobediência civil” o que daria mais força a sua militância. O resultado foi que entre prisões, greves, passeatas, trabalhos forçados os indianos conquistaram direitos e gozavam de mais liberdade tudo graças as negociações e da forma de luta que ele sustentava.

Após essa experiência na África Gandhi retorna amadurecido como um conscientizador de toda Índia num movimento de luta pacífica pela independência. Estava pronto para enfrentar as autoridades britânicas, se misturar com os intocáveis, penetrar nos lugares mais remotos participando do dia-a-dia do povo, jejuando como forma de protesto político, mobilizando líderes e agrupando pessoas ao seu movimento de desobediência civil.

Outro ponto de estratégia estava em sufocar a economia dos ingleses sobre os produtos importados, sobretudo os tecidos e o monopólio do sal. Utilizando o khadi, vestimenta tradicional, incentivava os hindus a fabricarem suas próprias roupas ao invés de comprar dos ingleses. Outra questão tocava sobre a proibição por lei de fabricarem seu próprio sal o que afetava diretamente os mais pobres. Após a marcha do sal, como ficou conhecida, provando que esse produto não era uma mercadoria estrangeira, conquistaram esse direito. Mas não sem prisões em massa e extrema violência policial.

Por sua formação acreditava que todos possuem direitos iguais por isso a figura da mulher no filme é bastante marcante, principalmente o papel da esposa que compartilha com o marido as lutas e o acompanha. Às vezes assumia a liderança quando a prisão impedia Gandhi de discursar. Ora ajudava os feridos nos conflitos violentos. Kasturba é testada ainda na África quando tem de limpar as latrinas, ali é o ponto crucial, a tomada de decisão e enfim o batismo de iniciação. Quando Gandhi incentivou o uso do khadi pediu que as mulheres o fiassem em suas casas. Nesse tempo esse oficio não era de exclusividade feminina, a intenção era de que as mulheres também tivessem sua participação juntamente com os homens lado a lado na revolução pacifica.

Com a chegada da II Guerra Mundial o movimento ganharia mais força após Gandhi recusar apoio aos ingleses no conflito e exigir cada vez mais a independência da Índia. Os britânicos com medo de uma guerra pela independência pelos grupos mais radicais aceitaram a situação e declarou conceder a independência política à aquela região, além do mais tornou-se inevitável a sustentação do domínio colonial naquele lugar.



 
Outra característica do filme eram os constantes conflitos entre hindus e muçulmanos. Isso é bem visto na cena em uma reunião entre autoridades britânicas e indianas quando se diz que “existem três Índias: uma dos hindus, uma dos muçulmanos e outra dos ingleses”. Gandhi era totalmente contrário a divisão da Índia, o seu idealismo político era a favor da paz e unificação, o que não impediu a independência do Paquistão. O estabelecimento de novas fronteiras fez com que o êxodo entre as regiões fosse constante entre as duas comunidades sempre em clima de violência, apesar dos fortes apelos de Gandhi a tolerância.

Muito mais que uma força política Gandhi foi um líder espiritual onde a influência de suas ações pode ser sentida até hoje. É retratado no filme como uma pessoa de aparência frágil, mas com um poder interior, interpessoalidade e carisma que intimidava e trazia respeito. Sua trajetória desde a juventude até o seu assassinato em 1948 por um radical, no qual o filme não trata de mostrar o porquê de suas intenções, tende a focalizar o homem Gandhi e seus ideais. 


Se o filme oculta Nehru, Bose e outros não entra em detalhes nas discussões político-ideológicas, mostra apenas a organização do povo, o estado de extrema pobreza e exploração. É um filme longo, mas que prende pelas belas fotografias e atuação do protagonista. Chama atenção pelos caminhos traçados entre política, jogo de interesses e uma estratégia fora do comum onde o sacrifício fala mais alto. Fala do triunfo do pacifismo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Guimarães, Ary. O pensamento político de Gandhi. Afro-Ásia, n° 8-9 (1969), pp. 119-130. Disponível em: http://www.afroasia.ufba.br/edicao.php?codEd=75.
Acessado em 16 de set. 2009.

HOBSBAWN. Eric J. A Era dos Impérios (1875-1914). São Paulo, Paz e Terra, 1988.

PANNIKAR, K. M. La sociedade Índia em la encrucijada. Buenos Aires. EUDEBA, Editorial Universitaria de Bueno Aires, 1963.

WOODING, Hugh. Ideias de Nehu. Afro-Ásia, n° 2-3 (1966), pp. 121-130. Disponível em http://www.afroasia.ufba.br/edicao.php?codEd=78.
Acessado em 16 de set. 2009.

FILMOGRAFIA:

GANDHI. Direção de Richard Attenborough. 188 min: DVD. Cor. Columbia Pictures, 1982.


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