Anuncie aqui!

 
Desvendando “O Suicídio” de Durkheim

Por:. Antonio Marcos Ribeiro
Graduado em História pela UNEB/Campus XIII


Os estudos de Émile Durkheim são constituições importantes na tentativa de estabelecer as diretrizes do estudo sociológico. Para que a Sociologia pudesse ser respeitada como uma ciência válida precisaria de um método apropriado. Portanto utilizando do próprio método criado (o método sociológico) Durkheim estuda o fenômeno do suicídio como um fato social mensurável, passível de analises sociológicas respaldado em critérios que poderiam servir de modelos para outras pesquisas de mesmo cunho.



Alicerçado no positivismo a concepção que se tem da sociedade é de um organismo passível de ser mensurável, de teorização nos moldes de uma ciência sociológica. Para Durkheim toda coletividade determina a individualidade acreditando numa “consciência coletiva”. A base de seus estudos advém da ideia de que os fatos sociais devem ser tratados como coisas, isto significa que a explicação para os fatos está na sociedade e não em indivíduos isolados. Essa ideia percorre todo seu trabalho é a estrutura de toda analise sociológica.



O objetivo central da introdução do livro O Suicídio (2000) é fundamentar a sociologia a partir desse fato social que é o suicídio como objeto de estudo. Destacando evidências empíricas definindo o fato social (suicídio) e tratando o fato como coisa, ou seja, deixando o “naturalismo” desse evento para debruçar-se nesse fenômeno lançando um olhar epistemológico sobre ele. Dessa forma o objeto torna-se o objeto representado, um material com significado e construído historicamente. Por isso Durkheim (2000) coloca dessa forma a questão “O investigador é forçado a construir, ele próprio, os grupos que quer estudar, de modo a conferir-lhes a homogeneidade e especificidade necessárias para poderem ser tratados cientificamente” (p. 7).



Sendo assim, o suicídio torna-se objeto de estudo a partir das regras estabelecidas (metodologia própria) tornando-se um fato social conceitualizado, observado, investigado comparativamente (nota-se como as estatísticas das tabelas podem ser cruzadas os seus dados), com conclusões de causa. Chegando-se a premissa de que o suicídio é um fato social ligada a motivações de outra ordem que não seja de desejos individuais, mas de natureza coletiva. Coloca-se dessa forma: a humanidade possui um sentido da expressão da natureza humana ou em outras palavras a humanidade é produto da própria sociedade. Para Durkheim esse é o resultado plausível da observação empírica dos fatos.

As principais características do método sociológico durkheimiano passam por meios próprios para se conhecer um fenômeno e reconhecíveis com objetivos e traços peculiares. O fato social como ele coloca podem ser analisadas sob aspectos totalmente diferentes da psicologia como exemplificado no suicídio visto pela ciência do comportamento humano. Os aspectos sociológicos estão bem diferenciados dos da psicologia. Durkheim coloca em seu método que o coletivo supera o individual, ou seja, a busca pelas respostas está na coletividade do fato e não na individualidade. As razões internas de um individuo fica a cargo da psicologia enquanto que na observação externa estaria a objetividade da análise sociológica. Durkheim (2000) colocou dessa forma: “Os meios para se conhecer o fenômeno podem ser analisadas sob aspectos totalmente diferentes da psicologia” (p. 14).



Os parâmetros para uma análise sociológica perpassam pelo reconhecimento do fato social. De forma sumária fato social é todo produto da sociedade feito por ela e para ela. O que lhe interessa e afeta dada sociedade. Então se reconhece um fato social quando existe um poder coercitivo advindo e exercido sobre indivíduos por um poder externo a elas. No fato social existem características próprias como exterioridade que é maneiras de agir e pensar fora da individualidade. Poder coercitivo, impessoalidade e objetividade são outras características que propõe a compreensão do fato social.



Outra característica de seu método é o tratamento dado ao fato social como “coisa”. Isso significa que ao utilizar o método sociológico o pesquisador precisa distanciar do objeto afastando todo sentimentalismo e pré-noção em relação ao mesmo. Por isso suas palavras iniciais são sobre a construção da palavra suicídio. Faz uma construção baseado numa composição paradigmática buscando um sentido para a terminologia. É o que ele chamou de “tentativa de definição”. Mesmo assim Durkheim (2000) diz que o fato sendo definido em sua linguística ainda não é suficiente para uma temática de estudo sociológico.



Para além da definição linguística está a aplicação do método sociológico que trata o objeto em etapas bem elaboradas observando a sua ocorrência (tempo e espaço da coisa em estudo), comparação estatística, e por fim explicação do fato social. A comparação é importante por mostrar-se como referencial onde o cruzamento de dados podem responder questões e apresentar realidades.


O próprio autor em O Suicídio (2000) segue suas próprias regras do método sociológico na análise do suicídio. Ele parte de dados estatísticos onde a taxa social recai num fenômeno próprio. Em seguida procura a natureza da causa explicando o elemento social/ou tendência coletiva para o suicídio. Comparando a variação das taxas, as discretas mudanças nas diferentes sociedades o que lhe permitiu deduzir que as taxas de suicídio são bem mais altas que as taxas de mortalidade.



Como mesmo disse “cada sociedade tem portanto, em cada momento da sua história uma aptidão definida para o suicídio” (p. 14). Ou “A tendência para o suicídio que afeta coletivamente cada sociedade” (p. 18). Em suma seu estudo mostrou que o suicídio estava associado a uma decorrência social e não em fatores biológicos ou psicológicos. O suicídio foi estudado e explicado como um fato social.



Portanto, a introdução e consequentemente o restante do livro é construído no rigor cientifico da ciência sociológica servindo de modelo para outros estudos da sociedade. Em linhas gerais, Durkheim define o problema, diferencia o fenômeno como da sociologia, refuta objeções, estabelece uma teoria geral do fenômeno e por fim levanta resoluções retiradas de outros fenômenos sociais.



O fato social expresso na análise do suicídio de uma forma geral em sua obra aponta para o fenômeno da divisão do trabalho e as suas contradições que podem se manifestar nas altas taxas de suicídio de indivíduos na sociedade moderna. Ele parte do pressuposto de que ao estudar o fato social e dar-lhe explicação de suas possíveis consequências sente-se no dever de desvendar as causas do fenômeno. É o que consideramos que para toda causa existe um efeito com explicação racional e objetivo como propõe o método.



Essas ideias são fundamentais ao dar sentido ao conceito de consciência coletiva, portanto as sociedades possuem prioridade e imperativos sobre indivíduos. Nesse caso do suicídio esse fenômeno individual deve ser explicado à luz da coletividade dentro da teoria do fato social. Para Durkheim os efeitos da socialização do mundo moderno da época com suas imposições, normas e coerções influenciavam de alguma forma as taxas de suicídio, ou seja, a ação social sobre indivíduos são fatores determinantes para as mortes apontadas. A exemplo apontou que existem “crises que venham alterar o estado social” (p.14). E que “cada sociedade está predisposta a fornecer um determinado contingente de mortos voluntários” (p. 18). Tudo isso demostrado dentro da teoria do fato social.



O método sociológico elaborado por Durkheim está expresso na elaboração da problemática do suicídio da seguinte forma como apontado em outras linhas desse texto. Em primeiro lugar ele definiu apropriadamente o fenômeno em questão. Numa espécie de estudo semiótico procurou desvendar a compreensão da palavra suicídio. O objetivo era tirar da palavra tudo aquilo que pode lhe dar sentidos e significação linguística. Dada a definição passa para a própria etapa em que analisa o fato social com consequências sociais, esse tipo de análise próprio da sociologia é o que dá sentido ao estudo.



A parte que toca a refutação de tudo que não interessa ao estudo, a exemplo, noções distorcidas e más interpretações. Esse processo desmistifica para separa-lo apropriadamente e assim pode-lo analisa-lo sem preconceitos e distorções. Durkheim estava imbuído do seu método sociológico identificando correntes, analisando taxas, comparando estatísticas. Ao encontrar tipologias para o suicídio procurou descrever a teoria geral do fenômeno. Essas etapas básicas davam a base de elaboração da problemática em O Suicídio (2000).



Com esse estudo Durkheim colocou o suicídio em uma categoria analítica com significação e sentidos sociológico. A importância desse estudo aponta o suicídio como fruto de uma concepção social elencando elementos que refutam o mero ato individual. Atitudes construídas dentro de um viver social derivada não da subjetividade única de um ser, mas de todo um emaranhado de pressão social. Seria mais de fora para dentro do que o contrário a ação suicida. As causas e os meios não deveriam ser analisadas fora do contexto sociológico, mas pensadas como causas sócias essa é a relevância apontada pelo estudo.



Referências bibliográficas:



DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. 2. ed São Paulo: Martin Claret, 2001. 



DURKHEIM, Émile. O suicídio. São Paulo: Martins Fontes, 2000. 




 


 



0 comentários:

DESCRIÇÃO-AQUI.