Empresta-me sua voz...
Dá-me pela palavra, que é sua, o direito de ser eu;
Permita-me contar como foi, como vejo, ou pelo menos como vi.
Deixe-me dizer;
não como aquele que faz da saudade um projeto de vida
nem da memória um exercício.
Tenho uma história, minha, pequena mas única.
Pergunte-me o que quiser; mas deixe-me falar o que sinto
Dir-lhe-ei minha verdade como quem talha o passado
flanando sobre dores e alegrias
Contar-lhe-ei o que preciso como alguém que anoitece depois
da aventura de auroras e tempestades,
como alguém que destila a emoção de ter estado.
Farei de meu relato mais que uma oração, um registro.
Oração e registro simples, de indivíduo na coletividade que nos une.
Empresta-me sua voz e letra para dizer que provei o sentido da luta,
para responder ao poeta que "sim", que valeu a pena e que a alma é
enorme.
Empresta-me o que for preciso:
a voz, a letra e o livro
para dizer que experimentei a vida e que, apesar de tudo,
também sou história.
Texto de José Carlos Sebe Bom Meihy
Lido na Sessão de abertura do I Encontro regional de História Oral Sudeste/Sul
Em (Re)introduzindo a História Oral no Brasil. São Paulo. Xamã, 1996.
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