Por. Antonio Marcos de A. Ribeiro
UNEB/CAMPUS XIII
FICHAMENTO
PUNTONI, Pedro. A Guerra dos Bárbaros: povos indígenas e a colonização do sertão nordeste do Brasil, 1650-1720. São Paulo: Hucitec/Fapesp, 2000 (Estudos Históricos, 44). Págs. 89-122.
Palavras-Chave: Índio colonial, formação territorial, guerra dos bárbaros, conquista.
Sobre o autor: Pedro Luis Puntoni possui formação desde a graduação, mestrado e doutoramento em História. É professor na USP, pesquisador do CNPq e diretor da biblioteca brasiliana. A ênfase em suas pesquisas trata de História da América Portuguesa atuando principalmente em História Indígena.
Sobre a obra: A obra de Pedro Puntoni (2000): “A guerra dos bárbaros: povos indígenas e a colonização do sertão nordeste do Brasil, 1650-1720”, apresentada originalmente como tese de doutoramento configura-se como uma das recentes pesquisas mais abrangentes sobre esses conflitos. O prefácio mostra como as tensões se configuraram isso “uma série heterogênea de conflitos que foram o resultado de diversas situações criadas ao longo da metade do século XVII” (p. 13). A abordagem do autor preocupa-se com um registro macro, assim a obra não se aprofunda o bastante nos conflitos locais. O que vemos é uma visão abrangente, no qual o historiador local poderá por essa referência se apropriar de dados mais especificos.
Para o autor, a América Portuguesa do século XVII é pouco historicizada ficando esses estudos arrolados na ocupação holandesa. Para Puntoni (2000) sua obra é para “preencher essas lacunas” (p. 14). Da mesma forma que Taunay (1995) quanto as fontes para Puntoni (2000, p. 15): “O historiador dessas guerras se vê, então, diante de um papelório no qual deve garimpar, aqui e acolá, pequenos indícios, com base nos quais poderá formar uma visão mais abrangente dos sucessos”. Apontando como causa primeira a falta de interesse do colonizador em registrar “quem se aniquilava” por essas e outras, as dificuldades em conhecer os “bárbaros”.
O livro contextualiza o conflito juntamente com a expansão da pecuária, pois o mesmo foi um dos vetores da penetração colonizadora dos sertões. O autor analisa a natureza da resistência bem como as classificações dos habitantes dos sertões que definem as políticas indigenista. Outro aspecto explorado é a formação do Terço (milícias de sertanistas) numa visão mais ampla dando um quadro completo quanto a isso e a extensão de suas atividades. Além é claro de recuperar narrativas de batalhas como Guerras do Recôncavo e Guerra do Açu. As Guerras do Recôncavo se dividiram em vários conflitos: A Guerra do Orobó (1657-1659), A Guerra do Aporá (1669-1673) e as Guerras do São Francisco (1674-1679). Essas três batalhas compõem o quadro dos conflitos ocorridos na Bahia. Na presente pesquisa o foco é a Guerra do Orobó que circuscreve a região em estudo e o seu prolongamento.
A Guerra dos Bárbaros geralmente é datada de 1683-1725 ou 1713 em outras datações relacionados com a chamada Confederação dos Cariris. Esses conflitos estavam ocorrendo ao leste do Maranhão, norte da Bahia, Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte, Pernambuco e Paraíba. Pedro Puntoni (2000) aponta conflitos ocorridos anteriormente a essa datação marca como início 1650. Isso é explicado por Puntoni (2000) que a Guerra dos Bárbaros não foi um conflito, mas vários focos de resistência a partir de meados do século XVII.
Texto extraído do trabalho:
RIBEIRO, Antonio Marcos de Almeida. A conquista do Paraguaçu: o sertão, o tapuia Maracás e a guerra justa (1655-1674). Monografia – Colegiado de História do Departamento de Educação e Ciências, UNEB/Campus XIII, Itaberaba-BA, 2012.
Fichamento do capítulo 3: Guerras no Recôncavo
“Se as terras mais próximas do lagamar eram ocupadas preferencialmente pelas plantações de cana e pelos engenhos de açúcar, o interior imediato do Recôncavo servirá sobretudo à criação de gado. Desde as primeiras décadas do século XVII, os “índios bravos” do sertão (isto é tapuias) resistiam ao avanço da fronteira pastoril, causando problemas aos moradores das freguesias do Recôncavo Baiano, atacando vilas, engenhos, fazendas e criações”. p. 90.
“Nesse momento, a situação da guerra em Pernambuco permitia que o governador-geral, o conde de Castelo Melhor, tomasse providências no sentido de organizar uma expedição punitiva. O sargento-mor Diogo de Oliveira Serpa foi nomeado cabo de uma “jornada do sertão” que deveria partir em agosto, “por respeito das águas”, isto é, aproveitando a estação boa de chuvas” p. 91,92.
“Apesar de seu fracasso, estas três jornadas – a de Diogo de Oliveira Serpa (1651), as tentativas do capitão Adorno (1651-54) e a expedição de Tomé Dias Lassos (1656) – devem ser compreendidas como parte de um esforço do governo-geral de formalização dos mecanismos de repressão e controle das nações tapuias, que entravam em contato com a fronteira da economia colonial e atalhavam seu desenvolvimento”. p. 96.
“As tribos de tapuias habitantes da serra do Orobó foram então identificadas como os agressores das fazendas e moradores das partes do rio Paraguaçu, dos chamados Campos da Cachoeira, do rio Jacuípe, Campo Grande e Inhambupe, além dos que ficavam na parte sul do Paraguaçu, isto é, as freguesias de Maragojipe e Jaguaripe”. p. 98.
“A guerra fora declarada “total”, pois a expedição deveria perseguir os índios não só no Orobó, mas também no Utinga ou qualquer outra serra onde se tivessem retirado, e fazer-lhes guerra “desbaratando-os e degolando-os por todos os meios e indústrias que no ardil militar forem possíveis”. Francisco Barreto se fiava no “valor da experiência” do capitão Aires, a quem recomendava que fizesse “exceção deste rigor” apenas às “[mulheres] tapuias e meninos, [a] que dará a vida e [os] cativará”. p. 106.
“Poucos meses depois, atacaram os currais de João Peixoto Viegas, sitos nas Itapororocas (na Jacobina), “donde queimaram quatro, mataram e feriram alguma gente. E, ultimamente, voltaram com grande poder ás instâncias da vila do Cairu, as quais investiram, e em uma delas matara o alferes, cinco soldados e alguns moradores que com eles se puseram em defesa””. p. 107.
“Segundo Sousa Freire, a “insolência” destes índios tornra-se “tão píblica que, costumado eles a fugirem para as brenhas e matos, se deixaram estar à vista”, e passaram a atacar e roubar “várias casas, cercando e pondo fogo às que lhes resistiram”. De maneira que os moradores, “com o temor das crueldades presentes tinham desamparado as suas casas e lavouras”, das quais “depende o total sustento desta praça e conservação dos engenhos pelas lenhas e farinhas”. p. 108.
“No início de maio de 1972, os paulistas partiram novamente para o Orobó, de onde perseguiram os índios em direção ao sul, em uma região extremamente seca. Em 2 de julho, avistaram dois batedores inimigos que foram seguidos por três dias até chegar em uma aldeia chamada Utinga, da nação topim. Apesar de a maioria dos índios já haver partido, alguns guerreiros ainda esperavam os paulistas com flechas” p. 112.
“Mas não foi essa a intenção dos paulistas, que partiram à conquista das quatorze aldeias dos “maracás” (maracanassus). Depois de guardarem seus prisioneiros no arraial que haviam feito nas Piranhas, levaram alguns índios consigo, já que estes não tinham espírito para fugir, pois as mulheres ficavam detidas como reféns” p. 113.
“Como recompensa, várias mercês foram concedidas em Lisboa aos chefes paulistas. Além disso, como os campos e as terras conquistadas eram “excelentes”, o governador-geral já havia concordado com o pedido dos cabos paulistas de se criarem duas povoações. Nesse sentido, pediu que viessem de São Vicente alguns colonos. Uma portaria de setembro de 1673 ordenava que fossem fundadas duas povoações, que “servissem de pião” com oito léguas de média ordinária desta capitania para cada banda, e somente então dar-se-iam terras em sesmarias ao seu redor. Porém, apenas Baião Parente ficou na Bahia e fundou uma vila, que levaria o nome de Santo Antônio da Conquista”. p. 115.
“Em junho de 1676, d’Ávila se via na barra do rio Salitre novamente em conflito com os tapuias anaios levantados, e precisando de socorro. Ordenou-se, então, o envio de pólvora e balas. Segundo o capuchinho Martin de Nantes, estes índios “haviam senhoreado todas as fazendas que chamavam curralo, dos dois lados do rio [São Francisco], numa extensão de cerca de trinta léguas, depois de haver matado os donos e seus negros [...] em número de oitenta e cinco, fazendo todos os dias uma grande matança de gado””. p. 118.
“A guerra deixara de ameaçar o sistema produtivo do Recôncavo e passara a mover-se pelo interesse consolidado na captura, comércio e utilização da mão-de-obra indígena. Desde meados de 1676, os moradores de Maragojipe, Jaguaripe, Cachoeira e Campos alegavam temer os bárbaros maracás e tupinhuães que andavam pelas cabeceiras a serra da serra do Guaiararu, de onde já haviam atacado alguns currais”. p. 120.
“O novo governador-geral, Roque da Costa Barreto, assumiu em março de 1678, trazendo ordens de Lisboa para dar seguimento à decisão de fazer guerra ao gentio bárbaro da fronteira, na freguesia Maragojipe, até que fosse de todo extinto. Essa política era resultado das petições dos moradores, que repetiam as artimanhas denunciadas por Martin de Nantes”. p. 122.
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