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Estereogramas são figuras espaciais representadas no plano. Essas figuras só podem ser percebidas como espaciais porque temos dois olhos. Pessoas que tem apenas um olho, ou que apresentam uma variação muito grande na visão de um olho para o outro, podem não conseguir ver estereogramas.
 
Algumas pessoas podem apresentar dificuldade em visualizar estereogramas. Por isso existem técnicas que podem ajudar na visualização de estereogramas, como a Técnica Paralela e a Técnica do Olhar Cruzado. A Técnica Paralela consiste em olhar fixamente para um ponto qualquer atrás da figura. A Técnica do olhar cruzado consiste em fixar o olhar em um ponto que encontra-se entre os olhos e a figura. Seja qual for o método utilizado o importante é relaxar. Quando algo começa a acontecer na figura é importante não tentar manter essa sensação, pois isso só vai servir para que ela desapareça. Também é importante ter boa iluminação sobre a figura, mas sem reflexos.
 
A percepção de profundidade é possível porque o ser humano avalia distâncias através de impressões chamadas de indicadores de profundidade. Os indicadores mais importantes nesse aspecto são os que atuam com os dois olhos, que são os seguintes: a experiência, a visão estereoscópica, o movimento e a perspectiva.
 
Quando olhamos para uma foto enxergamos imagens em 3D. Isso acontece porque fazemos um reconhecimento dos objetos tridimensionais que nos cercam. Esse reconhecimento utiliza a experiência que temos do mundo tridimensional em que vivemos.
 
Os seres humanos possuem uma visão estereoscópica, isto é, cada um de nossos olhos recebe uma imagem diferente do mundo ao redor. Baseado nessa diferença de um olho para o outro e na posterior junção das duas imagens pelo cérebro é que temos a noção de profundidade.
 
O ser humano é capaz de avaliar a distância de um objeto de um objeto através do movimento. Quando estamos dentro de um veículo em movimento, por exemplo, podemos perceber que os objetos maiores são os que encontram-se mais próximos, e os menores são os que encontram-se mais distantes.
 
A construção de  estereogramas exigia muitos cálculos de perspectiva, o que tornava o trabalho complexo e imperfeito. Hoje já existem programas de computador que facilitam esse trabalho, onde só é necessário colocar as medidas das coordenadas x, y e z, e automaticamente obtemos a imagem tridimensional. Essa nova maneira de calcular perspectiva facilitou a continuação dos estudos sobre estereogramas.
Simplificando estereogramas são imagens 3D escondidos dentro de outra imagem. Para visualizar as imagens 3-D, basta olhar para a imagem até que a imagem começa a tomar forma.  
Dicas para ver as imagens:
1. Escolha um ponto na imagem (no meio parece funcionar melhor) e  fique olhando.
2. Permita que seus olhos para relaxar, não basta olhar para a imagem, tente olhar através dele. Você verá seus olhos ficam ligeiramente fora de foco. Isso é normal.
3. Mantenha o olhar, não desistir, uma vez que você começa a ver a primeira imagem, fica muito mais fácil.
Se você ainda está tendo problemas para visualizar o estereogramas, consulte o artigo intitulado "Por que algumas pessoas não conseguem ver Estereogramas," de Jason Weekley ABOC, LDO  
Click nas imagens  para ampliar.




Organização pessoal começa com a mesa limpa

Um dos problemas mais comuns que sempre afetam a eficiência de uma pessoa é sem dúvida a organização - ou melhor, a desorganização - de sua mesa de trabalho, cujo sintoma mais evidente é o excesso de papéis e pastas esperando pela sua atenção e ação. A mesa atulhada é uma das grandes causadoras de perda de tempo nos escritórios. As pessoas perdem tempo procurando papéis, revistando arquivos e pastas, manuseando centenas de vezes os mesmos papéis na busca de um documento perdido. Além da perda de tempo causada pela distração visual de ter papéis não necessários na mesa e de uma sensação de peso, de desespero, de trabalho infindável que a mesa atulhada muitas vezes acarreta. Algumas pessoas, erroneamente, interpretam a mesa cheia de papéis como um símbolo da importância e da indispensabilidade de seus cargos. No entanto, elas devem lembrar-se que a mesa atulhada também pode indicar desorganização pessoal, indecisão, procrastinação, insegurança, prioridades confusas e incapacidade de terminar as tarefas dentro dos prazos.

Trabalhe em apenas um projeto de cada vez

Uma das regras da boa organização profissional diz que sempre devemos enxergar o topo de uma mesa. Como você só pode trabalhar em um só projeto a um só tempo, todo o restante da papelada deve ser posto de lado e facilmente recuperável quando você precisar dele. Quando se tem várias tarefas a cumprir ao mesmo tempo, facilmente podemos ser distraídos, acabando por perder nossa concentração. Para ser realmente eficaz em sua mesa de trabalho, crie o hábito de mantê-la sempre limpa. E trabalhe em apenas um projeto de cada vez.

Como ordenar o fluxo de papéis que chegam diariamente até sua mesa

1. Ter um bom lugar - e apenas um bom lugar para tudo que você possa pensar em querer reter.

2. Manter tudo no seu lugar, exceto nos momentos em que você tem necessidade de trabalhar com eles.

3. Despachar toda a papelada que puder imediatamente. Lembre-se que 80% das tarefas que chegam até você pode ser executado na mesma hora.

4. Não pôr de lado nenhum item antes de uma ação inicial - senão de solução, pelo menos de um encaminhamento para solução.

Lista de Tarefas

Um instrumento útil para sua organização é fazer uso de um caderno onde você registra tudo o que precisa fazer e/ou lembrar e a data alvo ou o prazo para sua realização. Este Caderno de Lista de Tarefas deve ser manuseado diariamente, pois é com ele que você planeja seu dia e sua semana. Tudo que lhe vier à cabeça, para fazer ou lembrar, registre nesse caderno. Você se surpreenderá com a melhoria obtida em sua organização pessoal.

O Lixo

Não há lugar melhor para você colocar uma boa parte dos papéis que chegam diariamente até sua mesa do que o lixo. Não tenha medo de jogar nele, memorandos internos, avisos de datas de reuniões (anote primeiro na agenda e jogue depois), circulares, cópias de cartas para simples informações, folhetos, etc. Enfim, use o lixo para tudo o que você já tomou conhecimento e sabe que não precisa mais recuperar. Com esta prática você estará esvaziando sua mesa de coisas inúteis e preparando o terreno para trabalhar mais organizadamente e com mais clareza de idéias.

Faça agora. Não deixe para depois

Todos nós, com maior ou menor intensidade, tendemos a adiar nossas tarefas e ações, deixando tudo para depois. Essa tendência à procrastinação, quase sempre tem um custo alto, pois só nos cria mais trabalho, mais problemas, mais preocupações e crises. A procrastinação é um dos maiores desperdiçadores de tempo que existe, e a sua solução exige entendimento das causas, avaliação de suas conseqüências e constante disciplina para enfrentá-la.

A procrastinação impede o sucesso

A mudança na sua propensão de "faço isso depois" para "faço isso agora" requer uma ação positiva. As coisas não acontecem por si só. Elas acontecem porque as pessoas fazem com que elas aconteçam. Faça as coisas diferentemente. Responda sua correspondência ao abrí-la. Nunca deixe para responder mais tarde. Quando você disser a si mesmo: "Eu preciso fazer algo sobre isto", faça-o na hora, não depois. Programe coisas, trabalhe e viva de acordo com sua programação. Crie o hábito de fazer as coisas mais importantes primeiro. Procrastinação é um problema psicológico, e uma vitória sobre ela é uma vitória essencialmente psicológica. Aceite a idéia de que você muitas vezes é um procrastinador. A coisa mais valiosa que você pode fazer quando procrastina é admitir este fato. Continuando a negá-lo ou racionalizá-lo você apenas irá retardar suas condições de superá-lo. O sucesso deriva de fazer as coisas realmente importantes que levam a resultados. Contudo essas coisas importantes é que usualmente são o foco da nossa procrastinação. Raramente adiamos as coisas não importantes. Se nós aprendermos a transferir nossa procrastinação das coisas importantes para as coisas não importantes, nosso problema terá grandes chances de desaparecer. Procrastinação é também fazer atividades de baixa prioridade ao invés de fazer atividades de alta prioridade.

Algumas dicas para você resolver o problema da procrastinação

1. Estabeleça prazos de início e conclusão.

Sempre que você tiver pela frente uma tarefa desagradável, dê um prazo para começar. A pressão dos prazos, mesmo os auto-impostos, pode ser suficiente para criar uma ação de sua parte.

2. Faça o desdobramento das tarefas.

Muitas vezes uma tarefa difícil pode ser desdobrada em tarefas menores e portanto mais fáceis de serem atacadas. Desdobre a tarefa em sub-tarefas e comece a trabalhar nelas.

3. Não espere a inspiração chegar. Vá atrás dela.

Em muitos casos uma tarefa difícil é adiada porque exige de sua parte um pensamento criativo, que no momento não está surgindo. Mas lembre-se que inspiração é 90% de transpiração. Portanto comece já, não espere.

4. Procure saber tudo sobre a tarefa.

O fato de você não estar animado no momento pode decorrer de uma falta de motivação ou desinteresse. A não familiaridade geralmente gera a falta de interesse. Quanto mais você sabe, mais tende a se envolver e a se entusiasmar. Procure obter mais informações, e envolver-se mais com o problema.

5. Descubra as causas de sua indecisão.

Se você está indeciso procure saber porque você não quer se definir. A indecisão ocorre quando as pessoas tem um forte desejo de acertar, um desejo de evitar erros. Existe um tempo para deliberar e um tempo para agir. O tempo para decidir é quando a informação adicional irá acrescentar muito pouco à qualidade de sua decisão. Faça o máximo de esforço para obter a melhor informação possível dentro do tempo que você dispõe. Então tome a decisão e vá em frente. Acima de tudo, não fique atormentando-se com a decisão tomada. E, principalmente, não a refaça.

6. Evite o perfeccionismo.

Não seja 100% perfeito. Contente-se em ser 90% ou até 80% perfeito. Lembre-se que o ótimo é inimigo do bom. É melhor ter cinco "bons", do que um "ótimo". Pense em tudo isso e comece a agir agora.

by.: TILIBRA









Os sábios também amam: um ensaio sobre
Eros e os homens

Por.: Izac Santos Evangelista

Muita gente ainda vê os filósofos, os grandes pensadores, como pessoas frias, excessivamente sérias, fechadas; seres insensíveis. Como sujeitos que parecem não se importar, ou mesmo, não serem eles afetados pelos desejos, emoções e sentimentos aos quais nós, “meros mortais”, estamos.

            Ao longo da História essa visão estereotipada acerca dos grandes pensadores tem sido difundida, sobretudo, no senso comum. Levando, inclusive, muita gente a ter certa aversão ao pensamento teórico, filosófico, no que se refere às questões da nossa vivência cotidiana. Bem, este é um grande equívoco.

            Todo pensador(a), antes de mais nada, é humano. E assim, sabe que tudo que é humano torna-se necessariamente objeto de reflexão, de estudo. Os gregos, por exemplo, considerados como “pais” do pensamento ocidental, acreditavam que para responder a simples – porém dificílima – questão: quem é você? Existiriam três maneiras: sentindo, conhecendo e amando.

            Amando? Sim, amando. O amor, este que é o sentimento mais sublime cantado pelos poetas, é parte constituinte do nosso self, da nossa identidade. Desse modo, parte fundamental da nossa história enquanto civilização. Se é assim, este pode ser pensado, tanto poética e filosoficamente, quanto historicamente.

            O grande mestre da nouvelle histoire [nova história], Lucien Febvre, convocava os historiadores a atentarem para questões aparentemente banais, colocadas em segundo e terceiro plano pelo cientificismo do século XIX; questões como a morte, o medo, o amor. E alguns historiadores deram ouvido à reclamação do mestre francês.

            Na segunda metade do século passado no campo da historiografia surgiu uma nova modalidade de estudo, a história das mentalidades. Este gênero histórico passou a se ocupar com o estudo de temas até então, vistos como irrelevantes, temas que faziam parte do cotidiano das pessoas e que Febvre defendia ser de grande importância.

            Uma das primeiras pessoas a trabalhar com a história das mentalidades no Brasil, foi a professora brasileira Mary Del Priore. Não é à-toa, que recentemente ela lançou um livro no qual faz um interessante estudo sobre “A história do amor no Brasil”. Nele ela procura abordar a concepção do amor desde o período colonial, passando pelo séc. XIX, chegando finalmente aos momentos de grandes mudanças comportamentais que marcaram o mundo na Era dos Extremos [séc. XX]. 

            Ora, se é possível pensar historicamente o amor é também passeando pelos jardins da história - que alguns consideram como a grande mestra da vida [historia vitae magistra] - que podemos constatar que os sábios também amam. E não apenas amam, mas se importam fundamentalmente em refletir sobre ele.

            Convido você amado(a) leitor(a), a acompanhar-me numa breve reflexão acerca do amor na vida e obra de alguns dos mais conhecidos pensadores e pensadoras da nossa História. E seguindo a lógica do amor - no qual é preciso dar para receber - peço-te gentilmente um pouco de tempo e atenção, certo de que também compartilharei algo. Afinal, há uma relação afetiva entre o escritor e o leitor.

            Escrever é também uma arte de sedução. Quem escreve precisa seduzir aquele que lê através das suas palavras, enquanto que o leitor, deve escolher se vai além do flerte inicial e se entrega a um momento de deleite com o mundo das letras. Como disse Rubem Alves: “ler é fazer amor com as palavras.”  

Os sábios também amam: um ensaio sobre
Eros e os homens

Por.: Izac Santos Evangelista
 
O mouro e o travesso deus-menino

            Discutindo sobre “Marx e o amor”, o filósofo brasileiro Leandro Konder, nos lembra que essas “são duas palavras que dificilmente são encontradas juntas, uma ao lado da outra.” (KONDER;2009,p.93) O grande pensador alemão, recentemente eleito como maior filósofo de todos os tempos, Karl Marx, é um desses pensadores sobre os quais foram construídos essas imagens estereotipadas que falávamos no início do texto. 
  
            Muitos vêem o autor de O Capital, como um sujeito zangado, carrancudo, temperamental, frio e calculista; que se preocupava apenas com questões políticas e econômicas. Mas, essa visão não retrata com veracidade aquele homem que amou profundamente a humanidade e que desejava tornar o mundo um lugar melhor.

            Ora, Marx era filósofo, e como tal nutria o [philos] amor pelo conhecimento [sophia], mas este tinha uma noção mais ampla do papel do amigo da sabedoria. E nas suas famosas teses sobre Feuerbach declara: “os filósofos apenas interpretaram o mundo de diferentes maneiras, trata-se, entretanto, de transformá-lo”

             Marx não concebia uma dissociação entre teoria e prática, antes via uma relação de completude entre a léxis [o que se diz] e a práxis [o que se faz]. A filosofia para este apaixonado revolucionário, deveria estar a serviço da construção de uma nova, justa e igualitária sociedade.

            Mas, apesar dessa ser a maior e mais bela forma de amor que podemos sentir - o amor pela humanidade - existem outros aspectos que ligam  o mouro – esse era o apelido familiar de Marx - e o travesso deus-menino filho de Afrodite, Eros – o amor.

“Amadinha do meu coração, torno a te escrever porque estou sozinho e porque me cansa ficar dialogando contigo na minha cabeça o tempo todo (...)”. Dificilmente alguém pensaria que estas doces e apaixonadas palavras foram escritas pelo pai do socialismo científico, Marx. Mas, não só foram escritas por ele, como são expressões de um homem maduro, que depois de vinte anos de convivência, ainda consegue como outrora, se expressar de maneira apaixonada para a sua amada, dizendo: “Beijo-te dos pés a cabeça, caio de joelhos diante dê ti e gemo. Amo-a, minha senhora.” (KONDER, 2009, p.99).

            Essa era a intensidade do amor de Marx por sua esposa Jenny. Amor que começara na juventude quando este conheceu a bela e cobiçada Jenny, quatro anos mais velha que ele, e que resistiu aos mais diferentes e difíceis momentos.

            Já nos primeiros momentos da relação os dois apaixonados tiveram que se mostrar pacientes diante das dificuldades. Apesar de conseguir a benção do pai de Jenny, o barão Ludwig von Westphalen, e de ansiarem pelo matrimônio. Estes tiveram que amargar  oito anos de espera até que a união viesse a acontecer, devido as difíceis condições de vida do mouro.

            Crises semelhantes se abateram por toda a vida do casal Marx, que passaram pela dor de perder 3, dos seis filhos que tiveram. Janny, Eleanor e Laura*, foram os frutos desse amor que sobreviveram. Nada disso, porém, o impediu de ser, como atesta a historiadora Michelle Perrot (2009, p.50), um pai afetuoso “atento às pequenas coisas da vida, ao ritual das festas ou dos aniversários, à saúde e ao futuro de suas filhas, como ele fora no passado, atento as suas brincadeiras.”
 
As inúmeras crises e o tempo, tão pouco, puderam apagar o fogo da paixão que nosso pensador nutria por Jenny. Alias, paixão, era o que movia tanto o Marx esposo, quanto o Marx filósofo-militante: “o domínio da essência objetiva em mim, o irrompimento sensível de minha atividade essencial, é a paixão”, escreveu nos Manuscritos de 1844.

            O amor para Marx era, sem dúvida, algo fundamental e se muitos dos regimes socialistas que existiram tivessem atentado para este fato, talvez tivessem tomado um rumo diferente evitando muitas das barbaridades que foram cometidas. Sei, vão dizer: “isso é romantismo!” Infelizmente nossa sociedade aprendeu a vê o amor de maneira distorcida e demasiadamente restrita. 

            Marx odiava o capitalismo exatamente pelo fato dele distorcer a relação dos homens entre si e destes com a natureza em geral. O sistema capitalista torna os homens individualistas, hipercompetitivos, solapando as bases da solidariedade humana (KONDER,2009, p.95). Por isso sua visão de amor relacionava-se com a da realização plena e total do homem.

            O amor entre homem e mulher era apenas uma parte dessa realização. Contudo, procurou viver intensamente essa parte tão apaixonante do amor: “Se pudesse, contudo, apertar o teu coração doce contra o meu coração, então me calaria, não diria mais nada”, escreve Marx numa carta a sua senhora em 21 de julho de 1856. Em outro momento, reconhece a especificidade dessa forma de amar: “Porém, o amor – não o amor feuerbachiano pelo ser, não o amor pelo proletariado, mas o amor pela amada(no caso, o amor por ti) – torna a fazer do homem um homem”.(KONDER, 2009, p.100).

            Não é por menos que o seu grande amigo Engels, previu desanimado, após a morte de Jenny, que o mouro não iria sobreviver. E assim o foi, um ano e quatro meses depois da morte da sua esposa, Marx também veio a falecer em 1883. (KONDER, 1999, p.147.

            Marx não foi um santo como alguns militantes fundamentalistas querem pintar, cometeu erros e se envolveu em casos polêmicos. O mais conhecido foi o que envolveu a empregada do casal, que oito anos mais nova que Jenny, veio a engravidar de Marx; cabendo a Engels o papel de assumir a criança, o menino Frederic Demuth, para evitar um escândalo a seu amigo. (PERROT, 2005, p.56).

            Aqui, não só o fato do casal superar esse acontecimento, tão mau visto dentro do nosso conceito de moralidade, mas também, o amor [philos] de seu amigo Engels é admirável. Poucas amizades na história da filosofia foram tão marcantes quanto à deles. Os pensadores do comunismo defendiam um ideal de amor universal, não metafísico, não romantizado; mas autoconsciente, real!Real entre homem e mulher, entre homens e homens, entre os seres humanos e o mundo a sua volta. E a vida tanto de Marx, quanto de Engels, testemunha essa crença.


* Para mais informações sobre as três filhas de Marx, vê o excelente estudo da historiadora francesa Michelle Perrot, “As filhas de Karl Marx: cartas inéditas”. In: PERROT, Michelle. As mulheres ou os silêncios da história. Bauru, SP: EDUSC, 2005.




Os sábios também amam: um ensaio sobre
Eros e os homens

Por.: Izac Santos Evangelista

Hannah Arendt, Heidegger e tantos outros amantes do amor

            Se em Marx não é possível encontrar uma discussão teórica sobre o amor, sendo necessário, como fizemos, discutir características gerais do seu pensamento e da sua vida para entendermos sua relação com Eros, esse problema não encontramos ao analisarmos o pensamento da também filósofa judia, Hannah Arendt.

            O amor teve lugar especial na vida e nas reflexões dessa que foi uma das maiores pensadoras do século XX. Depois de freqüentar as aulas do renomado filósofo alemão Heidegger – com quem se envolveria amorosamente mais tarde – ela escolhe para objeto de sua tese: “O conceito de amor em Santo Agostinho”.

            A maestria e genialidade com que  Arendt discutiu os regimes totalitários, sobretudo o nazismo, muitas vezes, ocultam esse outro tema da experiência humana que também foi alvo de suas reflexões geniais. Alias, é conhecido o brilhantismo que caracterizava essa pensadora desde a juventude.

            Vindo de uma família assimilada de Könisberg, a jovem judia com apenas 16 anos já dominava perfeitamente o grego e o latim a ponto de fundar um círculo de estudos e leitura de literatura antiga, (SILVEIRA, 2010, p.22) e aos 18 anos parte para Marburg ansiando aprender com os mestres Bultmann e Heidegger.

            Hannah Arendt conheceu de perto o peso e a dor causada pelo oposto do amor, o ódio, afinal, ela era uma judia vivendo em pleno período de ascensão do regime nazista, em que o Führer[1]  apregoava sua doutrina anti-semita por toda a Alemanha. Mas naquele ambiente, é inicialmente o amor que desperta a sua curiosidade, esse sentimento que, como escreveu em sua tese, “espera encontrar com a eternidade a sua própria realização”. (SILVEIRA, 2010, p.24).
            Paulo Henrique Silveira nos informa que as ideias de Arendt, assim como o pensamento de Heidegger, sofreram grande influência da filosofia de Soren Kierkergaard, pensador dinamarquês que como muitos outros intelectuais, deu amplo destaque nas suas reflexões para o amor. 

            Kierkegaard, assim o como filósofo da igreja cristã Agostinho, primava por um diálogo harmônico entre os ensinamentos dos gregos e os da bíblia cristã. Ambos veem um sentido maior no amor do que a mera relação entre os homens –  seres efêmeros. Para Santo Agostinho, nós não devemos estar presos às coisas passageiras, as coisas mortais; não são a elas que devemos devotar nosso amor. Logo, “neste amor [...] não é exatamente o próximo que é amado, mas o próprio amor”, observou Hannah Arendt.

            Tanto para Kierkegaard, quanto para Agostinho, o que devemos amar de verdade não é o outro, mas o amor. Não é, contudo, um desprezo pelo humano, mas uma crença fundamental de que em nossa essência somos amor. É este sentimento que nos trás alegria, felicidade; não exatamente o outro. Pois, a brevidade dos momentos que passamos com eles é um fato. Como escreve Henrique Silveira (2010, p.23): “o que importa é lembrar com nostalgia dos bons momentos passados ao lado de quem um dia amamos, mas rememorar o amor que um dia os inspirou”.  
          
            O pessimista Arthur Schopenhauer, outro pensador que levou o amor a sério, não partilhava de um entendimento cristão do amor. Seguindo pela linha biológico-evolucionária, o velho Schopenhauer via este como mecanismo necessário à sobrevivência e perpetuação da espécie. O amor era o mecanismo que fazia com que o homem e a mulher se relacionassem, gerando nesta relação um novo ser. Eros estaria assim a serviço da própria sobrevivência da raça humana.

            Parece haver no velho pessimista, que influenciara Nietzsche e Freud, uma nítida relação entre sexo e amor. Porém, o psicoterapeuta brasileiro Flavio Gikovate, nos lembra, “sexo e amor são duas coisas diferentes”. Sexo é um estado de excitação. Como diz a canção: “Sexo sem amor é vontade. Mas e amor? O que é o amor? 

            Essa pergunta já inquietava o grego Arístocles, mas conhecido pelo seu apelido Platão*, e na sua obra, o Banquete, procura discutir e responder a esta questão. Sócrates, um dos personagens do livro, descreve Eros  como sendo o filho de Poros (a riqueza) e Penia (a pobreza), um ser híbrido, andrógino; a junção de dois grandes opostos, que no fim se completam.

             O movimento de amar seria essa busca pela completude. Buscamos essa completude no alter [outro] sem, contudo, deixarmos de ser o que somos. Como observou Heidegger num trecho de uma carta que escreveu a Hannah Arendt: “Por que será que o amor é imensamente mais rico do que qualquer outra possibilidade humana?” e responde “[..] Porque nos transformamos naquilo que amamos sem deixarmos de ser nós mesmos”.

            Este sentimento nasce da nossa sensação de incompletude, que nos impele a buscar o outro. Por isso que Kierkegaard, afirma que o amor só existe na reciprocidade (SILVEIRA, 2010, p.23) “O sinal definitivo, o mais feliz e incontestavelmente convincente do amor é, pois, o próprio amor, tal como é conhecido e reconhecido pelo amor de outra pessoa.”

            Queremos amar e sermos amados. Precisamos amar e sermos amados. Não é mera retórica, ou  romantismo apoteótico, como encontramos nos filmes e nas novelas que inundam a  industria cultural. Alias, alguém já disse “os filmes de amor são muito chatos. Chatos porque tudo dá certo. O amor real não da história. Não dá para fazer um filme sobre este, já que o amor é algo que dura cinco minutos”.

            Brincadeiras a parte, para muitos pensadores o segredo do amor perene estaria na busca dentro da memória daquilo que foi o grande motor dele. “O passado é presentificado pela memória como aquilo através do qual se pode refazer a experiência(...) A grande força (vis) da memória reside no fato de poder remeter efetivamente o passado para o presente, desta forma ele nunca esta perdido”, observa Hannah Arendt no seu “O conceito de amor”.

            Heidegger também entende essa relação intrínseca entre a memória e o amor, ele – renomado filósofo alemão, ligado ao partido Nazista – escreve em 21/02/1925, uma carta para à jovem judia Hannah Arendt, onde afirma “o coração humano nunca está em condições de dominar o despontar repentino do outro em nossa vida. Um destino humano entrega-se a um destino humano, e o oficio do amor puro/casto (reiner Liebe) é manter desperta essa entrega exatamente como no primeiro dia.


[1] Hitler na Alemanha era chamado de Führer, termo que significa, mais ou menos, “chefe supremo.”
* Arístocles teria recebido esse apelido por ser forte, atlético e praticante da ginástica olímpica, Platão  no grego “largo”.


Os sábios também amam: um ensaio sobre
Eros e os homens
Por.: Izac Santos Evangelista

Conclusão: Os sábios só são sábios porque amam

            Seja no materialista Marx, no cristão medievalista Agostinho, ou nos contemporâneos Heidegger e Hannah Arendt, o amor é algo fundamental. Para alguns, um sentimento universal, que visa á plenitude - “só pelo amor o homem se realiza plenamente”, disse Platão. Para outros, algo de caráter metafísico, capaz de ir além dos lapsos momentâneos que constituem nossa breve existência, nos trazendo gozo: “O amor é a alegria acompanhada da ideia de uma causa exterior,” afirmou o apóstolo da razão, Espinosa.

            Mas uma coisa é certa, todos amam e querem ser amados. E, se é bom amar, é também maravilhoso sentir-se amado. Não é por acaso que o poeta anseia que “todos os dias do ano, todos os dias da vida, de meia em meia hora, de 5 em 5 minutos, me digas: Eu te amo.” [Drummond; Quero]

            Como bem soube  Marx, nós nascemos para viver em sociedade. Certamente o amor nos ajudar a escapar de la  solitudine. E ainda que a solidão também seja necessária para termos momentos de reflexão e produção, ninguém pode ser plenamente feliz vivendo só. Freud diagnosticou o problema do narcisismo - pessoas que só querem ser amadas e não amar -  que, na maioria dos casos, não passam de sujeitos que não sabem lidar com a frustração. Não amam, porque tem medo de perder o que gostam. 

            No amor é preciso correr riscos. Não é questão de agirmos de modo inconsequente – a paixão, esta sim!é em grande medida irracional -. Amar, por sua vez, é também uma atitude que exige extrema racionalidade e que nos coloca diante de muitos dos nossos medos: “Temo-te quando estás próxima, amo-te quando estás longe”, disse Nietzsche pela boca do Zaratustra.

            Não me parece lúcido cair no niilismo pós-moderno que invade as relações humanas. Contudo, não podemos moralizar em demasia a questão, nem seguir pela linha do romantismo idealista que na nossa cultura quer ver o amor como algo apoteótico. Gikovate (2010) define o amor como “o sentimento que se tem pela outra pessoa cuja presença provoca na gente a sensação de paz e aconchego, tranqüilidade e completude que nos falta quando estamos só”.
            Se for assim, lembremos das palavras do nosso grande aedo*: “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”. E seguindo o exemplo dos grandes pensadores, vamos refletir sobre o amor, e sobretudo, VAMOS AMAR. Afinal, a questão talvez, não seja a de que os sábios também amam, mas sim, de que estes só foram sábios porque amaram.       


Referências

GIKOVATE, Flavio. A separação dos amantes. Palestra ao programa: Café Filosófico, da TV Cultura, 2010. Disponível em: http://cafesfilosoficos.wordpress.com/2010/10/14/a-separacao-dos-amantes/#more-3898

KONDER, Leandro. Marx e o amor. In: O Marxismo na Batalha das ideias. 2.ed. – São Paulo: Expressão Popular, 2009; p. 93-102.

_____________________. Marx - vida e obra. São Paulo: Paz e Terra, 1999. 

PERROT, Michelle. As mulheres ou os silêncios da história. Bauru, SP: EDUSC, 2005.

SILVEIRA, Paulo Henrique Fernandes. Amor sem fim.  Filosofia, São Paulo,  ano III, n. 35, p. 18-28, 2009.  
            

* Como eram chamados os poetas e cantores  na Grécia Antiga.
DESCRIÇÃO-AQUI.